7. A transmissão da Revelação divina

7. A transmissão da Revelação divina
Deus se revela à humanidade "enviando seu próprio Filho, no qual estabeleceu sua Aliança para sempre. O Filho é a Palavra definitiva do Pai, de sorte que depois dele não haverá outra Revelação." A aula anterior pode ser resumida dessa maneira. Mas, como se fará a transmissão dessa Revelação? É o tema da aula de hoje.
 
A transmissão da Revelação divina
 
Deus se revela à humanidade "enviando seu próprio Filho, no qual estabeleceu sua Aliança para sempre. O Filho é a Palavra definitiva do Pai, de sorte que depois dele não haverá outra Revelação." (73) A aula anterior pode ser resumida dessa maneira. Mas, como se fará a transmissão dessa Revelação? É o tema da aula de hoje.
 
Jesus, pessoa divina é o centro e o cume de toda Revelação, que não é um livro, uma doutrina, mas sim, uma Pessoa. Por isso, o Cristianismo não é a religião de um livro, mas se faz por meio do contato com a pessoa de Cristo. Se a Revelação foi feita pela Encarnação, a transmissão da Revelação se dá pela continuidade do Mistério da Encarnação. Esta continuidade ao longo da História chama-se Igreja, ou seja, a Igreja é o Deus que se fez carne que agora vive ao longo da História. Jesus não foi alguém que viveu no passado, ele vive hoje. Não somente no céu, junto de Deus, mas ao longo da história, num corpo chamado Igreja.
 
O corpo que é a Igreja é uma realidade santa, pura, imaculada, mas, ao mesmo tempo marcada por membros pecadores. A Igreja não é pecadora, mas os membros da Igreja têm pecados, sendo assim, para que a Verdade divina seja transmitida é preciso identificar onde está a verdadeira vida da Igreja.
 
"Com suma benignidade, Deus fez com que se conservasse inalterado para sempre e fosse transmitido a todas as gerações aquilo que ele relevara para a salvação de todos os povos. Por isso, o Cristo Senhor, em que se consuma toda a revelação do Sumo Deus, ordenou aos Apóstolos que o Evangelho - o qual, prometido antes pelos Profetas, ele completou e por sua própria boca promulgou - fosse por eles pregado a todos os homens como fonte de toda verdade salvífica e de toda disciplina moral, comunicando-lhes os dons divinos." (DH 4207)
Assim, para os católicos existe a garantia de que aquilo que Jesus deixou está sendo transmitido ao longo dos séculos. A verdadeira transmissão da Revelação divina ocorre quando se está em sintonia com a Igreja de dois mil anos. A tradição apostólica, portanto, é uma realidade que precisa ser crida. Jesus, ao ordenar aos apóstolos que pregassem o Evangelho, não abriu nenhum leque de possibilidades, mas foi enfático ao dizer que deveriam pregar tão somente aquilo que receberam.
 
O depósito da fé - ou fidei depositum - de cuja transmissão os Apóstolos ficaram responsáveis pela ordem de Jesus Cristo, foi transmitido ao longo do séculos por dois meios: a tradição (transmissão oral) e as Sagradas Escrituras. Esses dois meios de transmissão formam a chamada Tradição Apostólica. É importante perceber que a palavra "tradição" está sendo utilizada com dois sentidos diferentes. O primeiro, com 't' minúsculo refere-se ao conteúdo oral que foi transmitidos pelos apóstolos. O segundo, com 'T' maiúsculo, engloba o primeiro sentido e agrega as Sagradas Escrituras para formar a Tradição Apostólica, que é o legado dos apóstolos para a Igreja.
 
Interessante é frisar que o depósito da fé, de cuja transmissão os Apóstolos ficaram responsáveis pela ordem de Jesus Cristo foi transmitido ao longo do séculos por dois meios: a Tradição (transmissão oral) e as Sagradas Escrituras. Assim, a tradição apostólica tem dois métodos de transmissão: oral e escrito. As Sagradas Escrituras e a Tradição pertencem ambas à tradição apostólica.
 
"E isto foi fielmente executado, tanto pelos Apóstolos, que, na pregação oral, por exemplos e instituições, transmitiram aquelas coisas que receberam da boca, da convivência e das obras de Cristo ou que aprenderam das sugestões do Espírito Santo, como também por aqueles Apóstolos e varões apostólicos que, sob inspiração do mesmo Espírito Santo, puseram por escrito a mensagem da salvação." (DV 4207)
Jesus, quando transmitiu os seus ensinamentos, não deixou nada escrito, mas o fez por meio de ações e de palavras. O que Ele deixou foi a sua Igreja, o novo povo de Deus, assim, o Povo de Deus é a continuação de sua Encarnação, é um organismo vivo que continua atuante ao longo dos seculos. Portanto, a transmissão da Revelação divina mesmo feita oralmente é algo que está ligado com a vida da Igreja. Não seria errado dizer que a transmissão da Revelação divina faz com que o próprio DNA da Igreja seja perpetuado e passado de geração em geração.
 
"Mas para que o Evangelho sempre se conservasse íntegro e vivo na Igreja, os Apóstolos deixaram como sucessores os Bispos, transmitindo a eles o seu próprio ofício de Magistério. Portanto, esta sagrada Tradição e a Sagrada Escritura de ambos os Testamentos são como o espelho em que a Igreja peregrinante contempla a Deus, de quem tudo recebe, até ser conduzida a vê-lo face a face tal qual ele é." (DH 4208)
 
Existe uma sucessão apostólica, portanto, os bispos transmitem ao longo dos séculos tudo aquilo que receberam dos apóstolos. "Por meio da Tradição, a Igreja, em sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações aquilo que ela é, tudo o que crê." (CIC 78)
 
"Assim, a comunicação que o Pai fez de si mesmo por seu Verbo no Espírito Santo permanece presente e atuante na Igreja: 'O Deus que outrora falou mantém um permanente diálogo com a esposa de seu dileto Filho, e o Espírito Santo, pelo qual a voz viva do Evangelho ressoa na Igreja e através dela no mundo, leva os crentes à verdade toda e faz habitar neles abundantemente a palavra de Cristo." (CIC 79)
Existe uma transmissão da vida da Igreja por meio dos sacramentos, mas também dos simples "costumes" (tradições, com "t" minúsculo), os quais, de certa forma, dão vida às Tradições. Esses costumes não estão inseridos no depósito da fé, mas são importantes para manter viva a Igreja de dois mil anos.
 
O chamado "espírito do Vaticano II, que é uma maneira de interpretar este concílio rompendo com os antigos e querendo instaurar uma nova era dentro da Igreja, procura acabar com essas simples tradições. É a teologia do "não precisa": não precisa de batina, não precisa de casula, não precisa de incenso, não precisa do sinal-da-cruz, não precisa de mais nada, deve-se focar no essencial. Ora, tudo isso não passa de um esquematismo sem vida. O que é transmitido não é só a essência doutrinal, mas a vida da Igreja. O crescimento orgânico da Igreja é real, pois ela não é imutável. Contudo, não se pode deixar para trás uma vida de dois mil anos, como se não servisse mais.
 
Assim, a vida da Igreja deve ser mantida em sintonia com a Igreja de sempre, adaptada ao mundo sem, contudo, deixar de obedecer aos preceitos deixados por Nosso Senhor Jesus Cristo. Ela deve crescer sempre mais no conhecimento e aprofundamento de Deus em concordância com o que está no Depósito da Fé.