2. As provas da existência de Deus

2. As provas da existência de Deus
A primeira seção do Catecismo: "Eu creio – nós cremos", é dividida em três capítulos, que podem ser resumidos em crença-revelação-fé. Crença é o esforço humano e infrutífero para se chegar a Deus. Fé é a adesão ao Deus que se revelou. Nesse sentido, somente os cristãos têm fé, todas as outras religiões possuem crença, porque são religiões fundadas no esforço humano de buscar a Deus e não no Deus que se revelou, pois a Revelação, no sentido estrito da palavra só existe no cristianismo, quando Deus se fez carne por meio de seu filho, Jesus Cristo.
 
As provas da existência de Deus
Por estar fora do seu centro, dizemos que o homem é um ser excêntrico. Em seu coração existe um desejo, uma insatisfação que nada consegue suprir ou apaziguar. A respeito desse "vazio", Santo Agostinho nos diz: 
 
Vós sois grande, Senhor, e altamente digno de louvor: grande é o vosso poder, e a vossa sabedoria não tem medida. E o homem, pequena parcela de vossa criação, pretende louvar-vos, precisamente o homem que, revestido de sua condição mortal, traz em si o testemunho de seu pecado e de que resistis aos soberbos. A despeito de tudo, o homem, pequena parcela de vossa criação, quer louvar-vos. Vós mesmo o incitais a isto, fazendo com que ele encontre suas delícias no vosso louvor, porque nos fizestes para vós e o nosso coração não descansa enquanto não repousar em vós. (Santo Agostinho, Confissões, I, 1,1)
A cosmovisão de Santo Agostinho era completamente diferente da atual. Na época, acreditava-se que tudo o que existia no mundo era formado por quatro elementos essenciais: terra, ar, fogo e água, e que cada elemento, por sua vez, possuía o seu lugar exato. Tais elementos atrairiam seus correspondentes em tudo que há. Por exemplo, quando uma folha de papel era queimada, a parte que cabia ao fogo era consumida, a fumaça subia e se misturava com o seu correspondente (ar) e as cinzas caíam ao chão, atraídas pelo seu elemento: terra. Para eles, cada coisa possui o seu peso, de acordo com o seu elemento. 
 
Contudo, o homem não se ajusta a essa definição, uma vez que sua alma é feita de espírito e possui, segundo Agostinho, um outro elemento, a chamada quinta essência. Sendo assim, para onde a alma humana pende? O próprio Santo Agostinho responde a esta crucial pergunta dizendo que o coração (alma) do homem não descansa enquanto não repousar em Deus, conforme citado acima. 
 
Ora, uma rápida observação em si mesmo é mais que suficiente para confirmar as belas palavras do Bispo de Hipona: nada é capaz de preencher o coração do homem. É por isso que, embora a visão de mundo de Santo Agostinho tenha sido ultrapassada pelos avanços da ciência, sua antropologia deve ser mantida, posto que verdadeira, ou seja, o homem é um ser inquieto, que somente será pleno quando descansar em Deus. Nesse sentido, nos ensina o Catecismo: 
 
O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a Si, e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar. (CIC 27)
Diante disso, o homem deveria buscar unir-se a Deus, porém, nem sempre isso acontece, embora ele seja, por definição, um ser religioso. O Catecismo continua ensinando: 
 
Mas esta união íntima e vital com Deus pode ser esquecida, ignorada e até rejeitada explicitamente pelo homem. Tais atitudes podem ter origens muito diversas: a revolta contra o mal no mundo, a ignorância ou a indiferença religiosas, o mau exemplo dos crentes, as correntes de pensamento hostis à religião, e finalmente essa atitude do homem pecador que, por medo, se esconde diante de Deus e foge diante de seu chamado. (CIC 29)
O homem pende para Deus, mas, ao mesmo tempo, existe algo que o impede de chegar até Ele. A lista se encontra na citação acima. Mas, se existem situações que podem afastar o homem de Deus, existem outras que permitem a ele aproximar-se de seu Criador:
 
Criado à imagem de Deus, chamado a conhecer e a amar a Deus, o homem que procura a Deus descobre certas "vias" para aceder ao conhecimento de Deus. Chamamo-las também de "provas da existência de Deus", não no sentido das provas que as ciências naturais buscam, mas no sentido de "argumentos convergentes e convincentes" que permitem chegar a verdadeiras certezas. (CIC 31)
Partindo da Criação, as vias para conhecer a Deus são o mundo material e a pessoa humana. Baseado nas cinco vias de Santo Tomás de Aquino tem-se a definição do mundo material: "a partir do movimento e do devir, da contingência, da ordem e da beleza do mundo, pode-se conhecer a Deus como origem e fim do universo" (CIC 31). Desta forma, é possível utilizar o raciocínio humano para se chegar ao conhecimento de Deus. Olhando para a Criação, para as criaturas percebem-se sinais claros da existência de Deus.
 
A segunda via de acesso a Deus é o homem, que percebe a sua própria alma espiritual, sua alma não pode ter origem senão em Deus (CIC 33). O homem seria um animal defeituoso se Deus não existisse, uma vez que para cada desejo do animal existe uma correspondência real, palatável. O homem, porém, tem em seu íntimo – retomando a ideia de Santo Agostinho – o desejo de algo que não está à sua disposição. Esse desejo não encontra correspondência no mundo real, pois o que ele anseia é pelo próprio Deus: o coração do homem permanecerá inquieto até que repouse n´Ele. 
 
O homem busca um sentido para a própria vida. Por definição, esse sentido deve estar fora dele mesmo, pois não existe a possibilidade de o sentido da coisa estar dentro dessa mesma coisa. O sentido deve estar além da coisa.
 
Portanto, se existe um sentido para esta vida, deve haver uma além-vida. Só pode estar em Deus, no céu. A busca por esse sentido e, ao mesmo tempo, o fato de que nada nessa vida preenche o vazio existente no coração de todos os homens é sinal também da existência de Deus.
 
O mundo e o homem atestam que não têm em si mesmos nem seu princípio primeiro nem seu fim último, mas que participam do Ser em si, que é sem origem e sem fim. Assim, por estas vias, o homem pode aceder ao conhecimento da existência de uma realidade que é a causa primeira e o fim último de tudo, e que todos chamam Deus. (CIC 34)
O homem foi feito para Deus, porém, não terá que encontrar o caminho até Ele sozinho. Deus mesmo quis ajudar o homem a encontrá-Lo e manifestou-Se. O homem, por sua vez, deve responder com a fé, o que será visto com mais profundidade no decorrer das próximas aulas.